terça-feira, 1 de junho de 2010

LIÇÃO 4 - SER IGREJA NA PÓS-MODERNIDADE: UM DESAFIO À COMUNHÃO


1.Texto Bíblico Básico: Romanos 12:9-21.
2. Para Memorizar: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal.” (Rom. 12.10)
3. Objetivo: Compreender comunhão como o modo de realização da missão da igreja.
Introdução
Numa sociedade em que impera o egoísmo e a competitividade por causa do consumo, a tendência é que cada vez mais pessoas se fechem para a o outro, relativisando sua presença, negando o princípio básico de realização do humano enquanto pessoa revelado no N.T, seja, o coletivo. Cada vez mais afeiçoados aos relacionamentos digitais, virtuais, pessoas se distanciam, com a falsa idéia, talvez inconsciente, de que se esta encurtando o espaço.
O contato físico, a proximidade, a conversa à mesa, tão essencial à comunhão e ao desenvolvimento dos laços fraternos ensinados e vividos por Jesus e seus discípulos, são, nesse contexto, impraticáveis, pois exigem algo que o Mestre de Nazaré enfatizou até seus últimos momentos no Getsêmani, gostar e precisar de gente por perto (Mt 26.38; Mc 14.34).
O amor é o alicerce da comunhão, e amor é cultivado pela presença e contato com o outro, com o semelhante. A igreja enfrenta nesse contexto o desafio de não se perder como comunidade, de não se tornar lugar onde é cada um por si.

Na pós-modernidade a igreja tem diante de si a difícil tarefa de cumprir com as palavras de Jesus: “Nisto conhecereis todos que sois meus discípulos: e tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35). Amamos através da vida comunitária e nos identificarmos uns com os outros não como indivíduos isolados que se encontram semanalmente para buscar interesses próprios, mas como comunidade que vive um para o outro, e encontra nesse outro motivo para se entregar no serviço (Fp 1.23-26).

Podemos pensar em algumas ênfases na comunhão que podem nos ajudar a cumprir com a vontade de Deus para sua igreja, ao mesmo tempo em que, firmado essas ênfases, podemos seguir nas pegadas de Jesus, que andou na contramão de um sistema que insistentemente negava o semelhante pela via do individualismo.
Podemos, a partir daqui, relacionar e fazer um contraste entre a forma como as pessoas se relacionam na pós-modernidade e o ensino das Escrituras sobre como cultivar os relacionamentos de acordo com a vontade de Deus.
  • Relacionamentos superficiais. Na pós-modernidade os relacionamentos são superficiais, distantes, o contato é evitado - um dos veículos que se presta a aumentar essa distância é a internet. Agravado pela competitividade do mercado que faz com que cada um busque seus próprios interesses - daí o individualismo, como já apontamos anteriormente -, quando absorvido pela igreja, tal comportamento, deforma sua missão, e produz indiferença entre os semelhantes, contrapondo com a vontade de Cristo de que todos sejam um assim como ele é com o Pai (Jo 17.21).
  • Relacionamentos profundos. Jesus nos dá um exemplo sem forçar o ensino, apenas andando, ensinando, comendo junto, se alegrando, se entristecendo, e amando como seus amigos, doze homens diferentes entre si, em todos os sentidos.
    O ministério de Jesus é o exemplo mais vivido, se quisermos chamar de padrão a ser imitado, de como devemos agir e reagir às pessoas. Jesus agia e reagia sempre na ótica da compaixão (Mt 9.36; Mt 14.14; Mt 15.32; Mt 18.27; Mc 1.41; Mc 15.19).
  • Relacionamentos com base em grupos privados (panelinha). “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo...em acepção de pessoas” (Tg 2.1). Embora nos tempos da igreja primitiva muitos já eram seletivos em suas amizades dentro da própria igreja, em nosso tempo ser seletivo formando grupos privados é ainda mais agravante, pois como vimos, há uma forte tendência, mais que em outras épocas, à que os indivíduos se isolem, que, em meios urbanos como o nosso tornam-se prezas fáceis à depressão.

Em lugar buscar o interesses comuns de “suportarmos uns aos outros” (Cl 3.13), cada um passa a buscar aquilo que é de seu próprio interesse, resumindo seu convívio à algum grupo que também seja seletivo em sua comunhão

O apóstolo Paulo parece estar corrigindo esse tipo de comportamento na igreja de Corinto: “Cada um de vós dizem: Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu de Cristo” (1Cor 1.12).

  • Relacionamentos que não cultivam interesses privados. O apóstolo Paulo em duas ocasiões fala sobre termos como fonte do nosso cuidado e preocupação o outro, colocando sempre esse outro como o centro da nossa atenção e cuidado (1 Co 10.24; FP 2.4).

Para o apóstolo Paulo a vida do outro me diz respeito, tanto que meus interesses devem ser secundários, enquanto que o interesse do outro é que deve ser buscado. O próprio Jesus viveu uma vida voltada sempre para o outro, seu projeto de vida é um projeto de entrega total aos semelhantes, a ponto de dar por estes suas carne e seu sangue.

Nenhum ser humano é uma ilha, escreve John Donne num de seus mais famosos poemas. Jesus sabia disso, tanto que na sua hora mais difícil (Getsêmani) pediu aos amigos que lhe fizessem compania. Ninguém resiste sozinho aos baques da vida, ainda mais quando assume um propostas de vida tão radical como é o Evangelho.

O Evangelho é um chamado à cumprirmos juntos esse projeto de vida chamado cruz de Cristo. Projeto que, embora assumido individualmente, pois cada um deve decidir por si, só pode ser concretizado na comunhão com os santos, que também abraçaram a mesma proposta do Mestre.