domingo, 2 de maio de 2010

LIÇÃO 3 - A IGREJA E SEUS ENFRENTAMENTOS NA PÓS-MODERNIDADE: HEDONISMO


Hedonismo: Doutrina moral que considera ser o prazer a finalidade da vida. O termo hedonismo deriva de uma palavra grega que significa prazer.

1.Texto Bíblico Básico: Fl 4:8-13 e II Co12:7-10.
2. Para Memorizar: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33).
3. Objetivo: Entender o que significa o hedonismo, onde podemos localizá-lo e como reagirmos a esse comportamento, de acordo com as Escrituras.
Introdução
A necessidade mais básica do ser humano é a felicidade. A busca pela felicidade é o que faz uma pessoa querer se realizar profissionalmente, fazer amigos, casar, ter filhos, torcer por determinado time (MENGÃO), tirar férias, viajar, etc. Até aí nada de mais, ou seja, a felicidade ligada a satisfação dos sentidos e da realização pessoal na vida, não significam necessariamente pecado ou desagrado a Deus, o sábio Salomão já falava sobre como bem desfrutar dos prazeres da vida.
O problema é quando essa busca pela felicidade se resume a satisfação de um prazer desenfreado, sem responsabilidade, consumista, em que, o deleite gratuito é tido como o significado e finalidade da vida.


O HEDONISMO LIGADO A IDEIA DE PROSPERIDADE


Na pós-modernidade a perda do senso de cuidado coletivo aliado ao individualismo gerou no meio evangélico-protestante uma tendência teológica que chamamos de teologia da prosperidade. A teologia da prosperidade em resumo atiça nos fiéis a busca pelo prazer imediato essencialmente através do consumo, alguns ambientes religiosos estimulam até mesmo a ganância em seus seguidores.


Nesse ambiente Deus é primeiramente convertido em um servo que está a serviço dos fiéis, que por sua vez justificam pedidos egoístas, para a satisfação pessoal, pela simples razão de serem obedientes em suas ofertas, atitude sem qualquer conexão com a felicidade apresentada nas Escrituras.

O CONTEÚDO DOS NOSSOS PEDIDOS


O livro de Tiago nos ensina sobre o que, como e porque pedimos muitas coisas a Deus, e explica que há problemas quanto ao conteúdo dos nossos pedidos e sua real motivação. Uma vez que a mentalidade do mundo (sistema sócio-econômico e cultural) é de que a felicidade se realiza através do consumo podemos cair no engano de que Deus tem por obrigação de nos dar aquilo que achamos necessário, mas que na realidade é fruto do desejo de querer ser mais que o outro ou de possuir aquilo que o outro possui.


1. A cobiça dita as regras de comportamento entre as pessoas. Tiago fala de guerras e contendas entre as pessoas que são impulsionadas pelos prazeres que guerreiam no íntimo do próprio indivíduo (Tg 4.1).


2. A cobiça serve de impedimento para que a pessoa ignore aquilo de que realmente precisa. “Cobiçais e nada tendes...”, escreve Tiago (Tg 4.2). Na sociedade pós-moderna o apelo ao prazer faz com que as pessoas consumam aquilo de que não necessitam. A cobiça lava a pessoa a gastar com algo que não é essencial pra manutenção da vida, enquanto que suas necessidades básicas são deixadas para segundo plano, por isso Tiago diz que por serem cobiçosos eles nada têm.


3. A cobiça leva os seres humanos a matar, invejar e viver em guerra com seus semelhantes. Ainda no versículo 2 do capitulo 4, Tiago escreve sobre o modo que seus leitores viviam e que isso os impedia de viver uma vida de comunhão plena, não reconhecendo o outro como um semelhante que merecia cuidado e dedicação.


4. A motivação da oração faz com que o conteúdo dos pedidos sejam maus. Jesus ensinou que o que deve ser buscado em primeiro lugar é o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33), e que para quem agisse dessa forma o básico para vida Deus cuidaria. O que não significa que a mesa seria sempre farta, pois, como aconteceu na própria caminhada de Jesus o alimento poderia ser escasso (Lc 6.1), Paulo também teve experiência nisso (Fp 4.12).


É interessante notar que Jesus sempre atendia às necessidades básicas das pessoas, ele restaurava a vida para que pessoa pudesse se realizar como humano. Hoje podemos notar pedidos estranhos no meio do povo evangélico, junto com testemunhos ainda mais esquisitos de gente que se diz agraciada por Deus até com carro zero. Antes de levantarmos a questão, se Deus dá ou não dá certas coisas aos fiéis, é importante olharmos o conteúdo das orações de Jesus, Paulo, e de outros homens da Bíblia para ver se encontramos legitimidade para certos pedidos. A partir de uma análise do conteúdo das orações de alguns homens da Bíblia e da realidade dos nossos semelhantes, é que podemos responder, referenciados pela ética do Reino, se é legítimo pedir certas coisas a Deus.


5. Por influência do individualismo os pedidos feitos nas orações são para a satisfação própria e não para o benefício coletivo. Na pós-modernidade indivíduos que se colocam no centro de todas as suas motivações, ou seja, tudo o que fazem é pensando exclusivamente em sua realização pessoal, acabam gerando desigualdades sociais, além de produzir gente alienada da realidade dura e hostil da maioria das pessoas, principalmente em países com altos índices de desigualdade em todas as dimensões da vida. Se lermos o final do versículo 2 do capítulo 4 de Tiago, de forma isolada teremos a idéia de que Tiago está dizendo que eles nada tem simplesmente por não pedirem, no entanto, todo o contexto do capítulo 4 aponta para a motivação dos pedidos, que de acordo com o que pedem não recebem, pois, suas motivações são os prazeres egoístas (Tg 4.3).


6. Se render ao individualismo produz cobiça e indiferença em relação à coletividade, sendo isso amizade com o mundo e inimizade com Deus. Não é difícil perceber que na pós-modernidade o individualismo aliado à perda do senso de coletividade, seja, de que somos dependentes uns dos outros, é um gerador de desigualdades que sequer levamos em conta e que produz o que chamamos de pecado estrutural - mais evidente por meio da estratificação social que muitas vezes até mesmo nós que somos igreja aprendemos a conviver passivamente e a se conformar.


Existem até explicações teológicas para tapar os olhos de muitos fiéis ao pecado estrutural; vontade de Deus, maldição hereditária, pecado não confessado, Deus querendo dar uma lição, etc. Para Tiago ser cobiçoso, individualista, invejoso etc., é selar amizade com o mundo (sistema sócio-econômico e cultural), e que, quem age assim constitui-se inimigo de Deus (Tg 4.4), pois a cobiça denuncia o individualismo da pessoa, que de acordo com o começo do capítulo 4 gera guerras, mortes e indiferença.

PRINCÍPIOS A SEREM CULTIVADOS PARA NÃO NOS TORNARMOS HEDONISTAS
  • Dedicar ao Reino nossa maior atenção (Mt 6.33)

  • Viver uma vida de negação diária de si mesmo (Mt 16.24; Mc 8.34; Lc 9.23; Rm 6.6)

  • Ter o mesmo sentimento de humildade que houve em Cristo (Fp 2.5-8)

  • Viver e praticar a unidade cristã (At 2. 42.47; 4.32-35)

  • Colocar o outro como o centrodo nosso cuidado (Fp 2.3-4)

  • Rever constantemente o conteúdo das nossas orações e pedidos a Deus (Mt 6.9-13; Lc 11.2-4; Tg 4.2-3)

Conhecer a estrutura que nos envolve é fundamental para que não sejamos engolidos por ela. Mais fundamental ainda é conhecer as Escrituras e o que elas nos ensinam sobre como reagir às propostas de estilo de vida que nos desumanizam, desumanizam o próximo e ferem o coração de Deus. Contra o hedonismo cada vez mais crescente - infelizmente no meio evangélico -, a prática comunitária do amor fundamentado no caráter da missão de Cristo é a única saída para a igreja que deseja ser sal da terra e luz mundo.



Buscar o Reino de Deus é nossa meta, vivenciá-lo entre os homens, nosso desejo mais profundo.


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